quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O Resumo Da Ópera! (Parte 2 de 7)

Os relatos abaixo, na verdade, são uma antologia de emails que eu mandei pro meu melhor amigo e os quais eu repasso aqui. Por isso, vou fazer que nem em "O Diário de Anne Frank" e arrasar com uma amiga imaginária chamada Kitty. Assim, não preciso alterar muito a prosa. Essas séries de cartas estão divididas em vinte capítulos - alguns ben curtinhos, outros bem longos, resultando, ao todo, em sete posts, que eu irei publicar aos poucos.

Querida Kitty,

Cheguei no navio. Estou bem e preciso te contar tudo o que está acontecendo aqui! Tenho muitas coisas pra relatar! Isso porque é o meu terceiro dia a bordo!

Capítulo 4 - Mariner of the seas, here I am!

Chego no navio, passo no escritório do Human Resources e já me deparo com uma menina brasileira fofésima do Payroll chamada Kelly! Uma fofaaaa, super querida! Então, eu encontro o boy que vai me apresentar o navio e tudo mais. Depois de um tour básico, ele me leva até a minha cabine! Estava com medo do que iria encontrar. Porque eu sabia que as pessoas que trabalhavam na minha posição tinham cabine privativa, mas, também sabia que, em cada navio, só tinham duas pessoas do meu departamento. Neste navio, são três! Estava com medo de ter que dividir cabine! Até mesmo porque, pelo que notei, as cabines pra 2 pessoas são super pequenas!

O cara pega a chave, abre a minha cabine e, quando eu vi, VERTEU UMA LÁGRIMA DO MEU OLHO!!! CABINE PRIVATÉEEEEEEEERRIMAAAAA GIGAAAAANTEEEEEEEEEE! O cheiro de flores selvagens exalava por todas as partes! Tudo limpíssimo! Tudo em ordem! Ou seja, eu chorei sangue!!! Litros de sangue!

A única coisa uó é que o meu antecessor deixou um mooonte de coisas por lá! E coisas super surreais como um chapéu verde gigante com um trevo dourado de quatro folhas do dia de São Patrício. Baquetas de bateria no cofre, tênis e mais um monte de ítens estranhíssimos! Só que a pior parte foi na hora em que eu removi os móveis de posição, no meu melhor momento feng-shui. Tiro a mobília do lugar e encontro a coisa mais nojenta que eu já vi na vida: um montinho com uns 50 pedaços de unhas cortadas!!! Quase morri!! Pensei que era um trabalho de macumba!! Morri demais! Veja limpeza pesada vai chorar por mim nos próximos dias, Kitty!

Capítulo 5 - Trabalho??? Quequeehisso!???

Conheci o meu supervisor e meu colega de trabalho! Os dois são legais! O meu supervisor é americano, tem uns 40 anos e faz a linha meio geek. Ele é bem competente e super de boa. Outro detalhe arrasador: VOCÊ TEM NOÇÃO QUE EU TRABALHO DE ALL STAR PRETO COM CALÇA???????????!!! REPITO PRA DONA DE CASA, QUE ESTÁ NOS ASSISTINDO E NÃO OUVIU DIREITO! ALL STAAAAAAAAAAAARRR!!!! Não sou neeeeeeeeeeeeem um pouco obrigado a usar um sapato desconfortável uóoo!! Achei digno demais!!!!!

Quanto ao trabalho mesmo, é tuuuuuuuuuuuudoo! Fico sentado a maior parte do dia. Minha cabine fica do laaaaaaaaadooo, repito auditório, DO LADOOOOO do esctritório do vídeo. Sem contar que a maioria dos tripulantes mora no Tween Deck (que seria o deck "menos zero"), ou no deck 0 ou no deck 1. Mas eu moro no Deck 2, na área dos guests e pertíssimo da pista de patinação no gelo.

No meu cartão ID está escrito musician/entertainer e tenho milllllllhhhhhhhhhares de regalias!!! Pois descobri que tenho duas stripes. Essa hierarquia vai até as cinco stripes - que só o capitão do navio tem. A maioria dos tripulantes não tem nem uma stripe. E eu já comecei com duas, porque, obrigação, eu não tenho nenhuma! Por existirem poucas pessoas com duas ou mais stripes, eu gozo de uma série de privilégios que eu achei bem digno! Posso comer nos restaurantes dos guests sempre que eu quiser, posso freqüentar a academia dos guests, andar por todas as partes do navio sem dar justificativas. É o máximo, Kitty!!!

Quanto à carga horária, as noites formais são as que eu trabalho mais! Imagina que eu trabalho quase cinco horas nesse dia??? É muita coisa! Porque em dia normal mesmo, eu trabalho de UMA HORA À 3 HORAS POR DIAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!! Rocky, levanta a placa de aplausos pra platéia!!!! Produçãaooooooo!!!!!!!!!! Repita pros telespectadores!!!! E, no quinto dia do cruzeiro, trabalho TRINTA MINUTOSSSSSSSSSSSSSSSSS!!!!!!

MORRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRYYYY 3888888888888888 VEZES!!!!!!!!!!!

Capítulo 6 - Job Description

Mas o que faz um Broadcast Technician??? - você deve estar se perguntando. Bom, o meu trabalho é filmar todas as festas e eventos do navio, editar tudo e gravar num DVD pra ser comprado pelos passageiros do navio. Além disso, sou responsável também pela manutenção dos canais de TV; entende-se por "manutenção" o ato de trocar os discos de DVD dos filmes que passam na TVe os playlists do canais de compras e turismo do navio com um click do mouse. Também filmo ao vivo os shows do navio para serem transmitidos na TV, no dia seguinte, e faço projetos paralelos, como vídeos motivacionais para passar nas reuniões da tripulação, etc. O nosso departamento também é responsável pelos filmes que passam no cinema e pelo conteúdo que passa nas TVs e nos monitores espalhados pelos bares do navio.

Capítulo 7 - Bem-vindo ao século XXI!

Outro detalhe que eu esqueci de comentar, Kitty, é que na minha cabine não tem aparelho de DVD! Só achei uma TV suuuuuja com VIDEOCASSETE embutido!!! Que coisa do pâaaaantanooo! Dá licença!!!! Super comprei um DVD player Sony na Best Buy, em LA, pela bagatela de cinquenta dólares! Isso porque eu também comprei um fone de ouvido desses esportivos por trinta e cinco dólares! Foi quase o mesmo preço do DVD! hahaha E, PASME: tinha uma TV de 42 polegadas, tela plana, widescreen, sobrando no escritório de vídeo que já voou pra minha cabine - com a devida autorização do meu supervisor, é claro! Não sou obrigado! Agora, minha cabine, tá parecendo um cinema!

Por hoje é só, Kitty! Mas se a senhora está passada com esses babados, você ainda não sabe nem da metade!

Beijos,
Di

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O Resumo Da Ópera! (Parte 1 de 7)

Bom, vou começar esta nova fase do meu blog relatando os momentos mais marcantes nos últimos dois meses: desde festas loucas e indecentes na cabine até ameaças de bomba…


Os relatos abaixo, na verdade, são uma antologia de emails que eu mandei pro meu melhor amigo e os quais eu repasso aqui. Por isso, vou fazer que nem em "O Diário de Anne Frank" e arrasar com uma amiga imaginária chamada Kitty. Assim, não preciso alterar muito a prosa. Essas séries de cartas estão divididas em vinte capítulos - alguns ben curtinhos, outros bem longos, resultando, ao todo, em sete posts, que eu irei publicar aos poucos.


Querida Kitty,


Estou escrevendo esta carta para relatar os meus primeiros dias nesse babado de navio!! Tentarei ser o mais preciso possível.


Capítulo 1 - Vôo suuuujo de Guarulhos para o Panamá


Vou linda pegar meu vôo (pela Copa Air Lines) e descubro que estou na última fila do avião - de frente pro banheiro! Ninguuéeeem merece!!! Já arrasei com a Nina, meu iPod, e tentei cometer suicídio segurando minha respiração - mas não fui bem sucedido! 6 horas, 2 refeições suuujas e 3 álbums do Massive Attack depois, estava no Panamá! Chorei com o aeroporto de lá! Super tendência! Parece um shopping! Arrasei no sanduíche Subway Vegetarian Delights - que foi feito por uma bixinha com a sobracelha feitíiiisssimaaaaaaaaaaaaaa!!! Achei elegante!


Capítulo 2 - Vôo afrooooooonte do Panamá pra LA


No vôo para LA, aconteceu o contrário do outro vôo - sentei na primeira fileira e tinha 1 metro de espaço na minha frente. Dava pra cruzar as pernas e o avião decolou comigo de perninhas cruzadas - porque eu não sou obrigado! Outro detalhe é que, na fila, tinha um boy afronnnnteee - lindinho, branquinho, de olho verde, uns 21 aninhos. Com o cabelo castanho com franjinha, sabe? Fooffíiisssimo. E ele tava de camiseta polo preta, sem hand luggage, bermudão preto e tênis Adidas preto também! Toda uma linha skatista (adoro!). E ele me tira o boarding pass do bolso, todo amassado, como se fosse um bilhete de metrô! Minha visão de lince detecta, no bilhete, que o acento dele é ao lado do meu!


A gente realmente sentou lado-a-lado, porém, separados pelo corredor. Mas ele botou o fone de ouvido e estava meio difícil puxar assunto... nem confianca! Coloquei meu iPod pra tocar e bobagem... mas, na hora final do vôo, ele tira o fone e comeca a conversar em espanhol com a passageira do lado dele. Eu, no truque, peço pra ele a hora exata de LA no meu mais puríssimo portunhol... mas a conversa não anda! Tento puxar mais assunto, mas não rola muita coisa!


Capítulo 3 - Welcome do LA!


O avião chega e é a hora da imigração! Detalhe que eu estava com uma cópia da carta de embarque da empresa. Não era a original! E este era o único documento que comprovava que eu estava nos USA a trabalho! Já imaginei mil cenários na minha cabeça! Já estava antecipando que ia ficar num escritório cheio daquele povo com cara de terrorista por pelo menos umas 2 horas até comprovarem a veracidade da carta. Chego no guichê, o agente olha pra minha cara, pede pra eu colocar a impressão digital, carimba meu passaporte e fala "OK! You're done!" FIQUEI EM CHOQUE!! Achei chic! Não fiquei nem 5 minutos na imigração.


Ainda não tinha nem começado a descarregar as malas. E quem eu vejo esperando pelas bagagens? O boy skatista! E quem vem em minha direção puxar assunto com um sorriso mais lindo que eu já havia visto na minha vida?? O próprio! Detalhe que eu tava pensando que ele era do Panamá! Mas ele era dos USA mesmo... E quando eu falo que entendo melhor inglês do que espanhol, ele aperta a tecla SAP e arrasa com o americaníssimo sotaque nativo!! Fiquei em choque! Porque o espanhol dele era ótimo! Sem nenhum sotaque americano!!!


Daí eu penso: "Arrasa! Vai demorar horrores pra vir minha mala e eu vou ficar aqui falando com o boy!" Então, as malas começam a ser descarregadas e a minha é a SEGUNDA a sair!! Fiquei passado! Sempre quando eu viajo, fico esperando horas pela minha mala, mas, quando eu quero ficar lá esperando pra poder conversar com um boy, a minha mala vem rapídissimo! E, como eu não queria arriscar deixar a minha mala rodando na esteira (porque já era meia noite na hora local), tive que me despedir do boy, pegar a mala rapidinho e voar. Foi uóooo!


Nesse meio tempo, um outro cara estava ouvindo a nossa conversa e fala que também estava indo trabalhar no mesmo navio que eu e que estava indo pro mesmo hotel (tudo isso num espanhol venezuelano uooh). E eu, no maior desinteresse "ah, que bom pra você, tchau!" - toda uma linha anti-social, porque eu queria ir embora logo. Mas ele insistiu que eu o esperasse pra irmos juntos. E ele ainda tinha que esperar a mala dele sair. PQP!!! Eu queria ir embora logo pro hotel dormir kiereeeeeeeeeeelhooo!!! E o boy lindíssimo eu já tinha perdido de vista, ou seja: mesmo com a minha mala sendo a segunda a sair, eu tive que ficar plantado na coleta de bagagens - e sem nenhum boy afronte pra ficar comigo e ajudar a passar o tempo!


Daí fomos pro hotel e a racha da recepção fala que eu vou dividir meu quaarto com um outro crewmember! Como assim, Brasil??? Não sou obrigado! Chego no meu quarto e não tem ninguém! Tomo banho, durmo e ninguém aparece!!! Achei chic!!! Fiquei no quarto sozinho e, no dia seguinte, vou tomar café e só tem Filipino e Indiano… traduzindo… só tripulante naquele lugar!


Boto meu Ray-Ban da série Active Lifestyle na cara, meu iPod no bolso, meu fone Technics na orelha e entro no ônibus que me levaria até o navio - ao som do puríssimo techno minimalista alemão!


Por hoje é só, Kitty! E isso ainda nem é o começo de tudo que eu tenho pra contar!


Beijos


Di

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Stephan Is Here!!!

Olá para todos!

Finalmente comprei o meu MacBook Pro e estou escrevendo este post deitado na minha cama, porque eu não sou nem um pouco obrigado! Antes que alguém pergunte, meu computador chama Stephan Sagmeister em homenagem a este grande designer gráfico austríaco, radicado nos USA. Não se preocupe se você não o conhece. Realmente, só quem é designer que vai saber quem é! Mas aconselho a dar um google nele, porque os trabalhos do Stephan humano são ótimos!

Mas, mudando de assunto! Estou embarcado trabalhando em cruzeiros como técnico de Broadcast há 2 meses e tenho muitas histórias pra contar. Mas irei começar a contar sobre a aventura que foi pra pegar o Stephan.

Estava eu em Los Angeles com meu amigo Thiago, brasileiro e uma americana que não fede nem cheira pra mim. Meio sem sal… Anyway… A loja da Apple fica há uns 50 minutos daqui e ia ficar muito caro pegar um táxi. Resolvemos alugar um carro. 60 dólares com GPS incluso. Achei puro luxo! Mais luxo ainda quando o carro era um Toyota chiquérrimo com som e tudo mais. Babado. E quem foi dirigindo? Eu mesmo! Foi babado!! Cadê o câmbio manual, Brasil??? Parecia que eu tava dirigindo um carrinho de bate-bate! Só tinha o freio e acelerador. Baaafo! E cadê as lombadas na rua? E os buracos? E as valetas??? Close demais! A única coisa uó foi passar num cruzamento sem semáforos e quem disse que alguém me dava passagem??? Enfim…

Meia hora depois, chegamos lindamente no shopping aonde continha a loja da Apple. Isso era uma da tarde. E eis que me inventam de ir num restaurante "italiano" que tinha lá chamado The Olive Garden. Já vi que ia dar merda! Porque passamos em frente da loja da Apple e estava lotado! E tínhamos que voltar pro navio às três e meia. Gastamos uma hora no lugar e tivemos que correr para as compras. Felizmente, todos nós já sabíamos o que queríamos, por isso, não demorou muito. Detalhe que o vendedor ficou treeegee quando eu disse que ia pagar o meu Stephan em dinheiro vivo. Dois mil dólares em notas de cem depois, sai lindamente com a sacolinha e a maçazinha gritando! Voltamos pro carro e a americana voltou dirigindo porque meus pés estavam doendo e porquê ela dirigia mais rápido - e também porque não teria santo que iria me convencer a aturar essa menina chata na minha orelha falando pra tomar cuidado, que o carro tava pago no cartão dela, que ela era responsável se algo ruim acontecesse, que ela tinha ataque de pânico quando alguém que não é ela está dirigindo… Ainnn.. Mas enfim… Isso era quinze pras três.

Voltamos rapidérrimo e tínhamos quinze minutos pra estar na portaria do navio. Detalhe que a loja de aluguel de carros ficava há 20 minutos andando. Não deu outra! Os três correndo que nem uns loucos com sacolas da Mac nas costas pra chegar no navio! Foi aí que uma tiazinha local, que estava passando de carro, parou e nos ofereceu carona até o navio. O nome dela era Debby. Nem preciso falar que praticamente canonizamos a Deb, porque, se não fosse ela, teríamos chegado atrasado. Não acho que perderíamos o navio, mas provavelmente, uma advertência a gente ia tomar. Chegamos ao navio e todo mundo se cortando que a gente tava de sacolinha da Mac e com as caixas de MacBook Pro dentro: "Those bastards got MacBook Pros!" Baaaafoooooo!

Cheguei na minha cabine e já abri a caixa e tirei Stephan de seu leito. Liguei, tudo certinho… e fiquei meia hora pra tirar uma foto decente pro meu avatar… deixei o itunes sincronizando minhas músicas e sai da cabine… quando desligo a luz, PAAAH… o teclado se ilumina… sim, Stephan vem com um sensor de luz babadeiro que adapta a claridade do backlight do teclado e da tela de acordo com a luz do ambiente… chorei lágrimas de sangue!! Foi muita emoção!

E foi assim que Stephan veio para a casa.

Bjs pra todos!